domingo, 29 de agosto de 2010

Sinal de Leitura Texto 08

SINAL DE LEITURA TEXTO 08


Linguagem Poder e Discriminação

Valter Filho
Vandeilton Trindade

A linguagem não é usada somente para veicular informação, o poder da palavra é o poder de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante e concentrá-la num ato lingüístico, Todo ser humano tem que agir verbalmente, isto é tem que “saber”. O poder da palavra é o poder de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante e concentrá-la num ato lingüístico (Bourdieu, 1977).
As regras que governam a produção apropriada dos atos de linguagem levam em conta as relações sociais entre o falante e o ouvinte. A presença de tais regras é relevante não só para o falante, mas também para o ouvinte, que, com base em tais regras, podem ter alguma expectativa em relação a produção lingüística do falante.
Somente uma parte dos integrantes das sociedades complexas, por exemplo, tem acesso a uma variedade “culta” ou “padrão”, considerada geralmente “a língua”, e associada tipicamente a conteúdos de prestigio.
Escrever nunca foi e nunca vai ser a mesma coisa de falar: é uma operação que influi necessariamente nas formas escolhidas e nos conteúdos referenciais. O conceito de “legitimação” é fundamental para se entender a instituição das normas lingüísticas. A legitimação é “o processo de dar “idoneidade” ou “dignidade” a uma ordem de natureza política, para que seja reconhecida e aceita” (Habermas, 1976).
As variedades lingüísticas associadas com a escrita passaram por um claro processo de “adequação” lexical e sintática, no qual o modelo era sempre o latim. A segunda etapa no processo de fixação de uma norma foi constituída pela associação da variedade já estabelecida como língua escrita com a tradição gramatical greco-latina. A tradição gramatical até o começo da idade moderna era associada somente com as duas línguas clássicas. O pensamento lingüístico grego apontou o caminho da elaboração ideológica de legitimação de uma variedade lingüística de prestígio.
A língua era um instrumento cujo poder nas relações externas era reconhecido; os autores, porém, não mencionavam o instrumento de poder interno, apesar de termos alguns indícios também nesta direção. A língua dos gramáticos é um produto elaborado que tem a função de ser uma norma imposta sobre a diversidade. No Brasil, ainda não se conhece (cientificamente) os fatores das classes mais cultas, de modo que a norma presente nas gramáticas é um conjunto de opinião sobre como a língua deveria ser, segundo os gramáticos.
O poder das palavras é enorme, especialmente o poder de algumas palavras, talvez poucas centenas, que encerram em cada cultura, mais notadamente nas sociedades complexas como as nossas, o conjunto de crenças e valores aceitos e codificados pelas classes dominantes. Na variedade padrão, então, são introduzidos conteúdos ideológicos, relativamente simples de manipular, já que as formas às quais estão associados ficam imobilizados favorecendo, assim, quase que uma comunicação entre grupos de iniciados que sabem qual é o referente conceitual de terminadas palavras, e assegurando que as grandes massas, apesar de familiarizadas com as formas das palavras, fiquem, na realidade, privadas do conteúdo associado.
A linguagem constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear a acesso ao poder. A função central de todas as linguagens especiais é social: elas tem um real valor comunicativo mas excluem da comunicação as pessoas da comunidade lingüística externa ao grupo que usa a linguagem especial e, por outro lado, têm a função de reafirmar a identidade dos integrantes do grupo reduzido que tem acesso à linguagem especial.
A visão tradicional da língua é muito restrita, com uma ênfase forte sobre as estruturas lingüísticas. Como é uma visão derivada da tradição escrita; fatos como “sotaque”, prosódia e outras características “menores” não são considerados formalmente como parte da língua, mas obviamente eles desempenham um papel central na real comunicação face a face.

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